Você sabe o que é capacitismo?
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Você sabe o que é capacitismo?

Você sabe o que é capacitismo?

Entenda como se define a discriminação às pessoas com deficiência e confira dicas para não cair nessa armadilha ao lidar com seu aluno público-alvo da educação especial

Por Silvia Ferraresi

Uma mãe – a publicitária e escritora Laura Costa Patrón, de 31 anos – realizou o sonho de seu filho de 7 anos, João Vicente, que tem paralisia cerebral e desejava andar de skate, utilizando uma adaptação no brinquedo. A alegria do garoto foi registrada por ela em um vídeo que fez bastante sucesso nas redes sociais. Em entrevista ao programa Encontro, da Rede Globo, Lau contou que achou interessante que tantas pessoas tenham se interessado e compartilhado o momento. Mas, por outro lado, disse que se entristeceu, porque o fato do vídeo ter “viralizado” mostrava que ver uma criança com deficiência brincando não era uma coisa comum para a maioria das pessoas.

As palavras da mãe de João Vicente refletem o que enxergo na educação inclusiva na atualidade: o aluno com deficiência até está dentro da escola, mas nem sempre se sente pertencente àquele lugar. Em geral, os brinquedos do parquinho não são adequados, as atividades da educação física são planejadas para estudantes com “desenvolvimento típico” e o intervalo não é um momento de interação e lazer entre todos. Tanto que meu compromisso com a inclusão escolar começou observando uma criança com deficiência no recreio – sem brincar, sem interagir e sem pertencer.

O que é capacitismo?

Durante a entrevista, Laura falou sobre o conceito de capacitismo. Você sabe o que é isso?

Capacitismo é a discriminação contra as pessoas com deficiência. São atitudes preconceituosas que classificam as pessoas em função da adequação de seus corpos a um padrão estético e/ou de capacidade funcional.

E o que isso quer dizer?

Quando olho para uma criança com deficiência e não pergunto para ela qual brincadeira prefere ou quando defino o que vai no prato dela sem antes questionar se, de fato, ela quer aquele alimento, eu estou sendo capacitista. Ou seja, estou presumindo o que ela pode ou não pode fazer, o que ela gosta ou não gosta, segundo meu julgamento sobre o corpo dela. O capacitismo acontece quando se presume que a pessoa com deficiência não tem nenhuma habilidade ou potencial.

Quando converso com os professores, percebo que, apesar da vontade de fazer o melhor pelo aluno, poucos sabem descrever as habilidades de seus estudantes. O que mostra que o lema “Nada sobre nós sem nós” – que é o mote do movimento político das pessoas com deficiência e que ganhou mais força e visibilidade no Brasil em 2007 – ainda é utopia na maioria das escolas.

Eduardo Galeano diz que a utopia serve para continuar caminhando. Precisamos seguir em frente para romper com o capacitismo que impede o acesso da criança à aprendizagem, à brincadeira, aos parquinhos, à participação em noites do pijama e outros tantos pequenos prazeres comuns aos pequenos.

Como não cair nessa armadilha

Seguem algumas dicas para incluir seus alunos com deficiência sem cair no perigo do capacitismo:

Pergunte o que ele quer: na maioria das vezes, num comportamento automático, oferecemos ao estudante o que consideramos bom, mas nem sempre o que achamos benéfico, de fato, é. Crianças com deficiência têm desejos, vontades e expectativas como qualquer outra. Ouça o que ela tem para te dizer sobre o que ela faz e o que gosta. Lembre-se de que a comunicação vai muito além do verbal. Existem outras formas para se conectar com seu aluno, mesmo que ele não fale.

Aceite o desejo e crie formas de torná-lo possível: momento de comemoração e festa nas escolas são comuns. Tomando esse exemplo, é importante considerar que nem todos estudantes gostam de se apresentar, mas participam para cumprir o “protocolo” da escola. A coreografia, a música e o tema são, em geral, escolhidos pelos educadores, com pouca ou nenhuma participação das crianças. Assisti a diversas apresentações onde os alunos choravam, se jogavam no chão e se mostravam claramente desconfortáveis com a exposição. Nessas horas, me perguntava: será que alguém perguntou a eles se gostariam de participar?

Não existe um único jeito para incluir com qualidade. O que existem são possibilidades e só podemos conhece-las se nossa escuta estiver ativa e sensível para nosso grupo de alunos e para cada estudante, individualmente. Você topa encarar o desafio de ouvir seu aluno e considerar os desejos dele?

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